10.4.12.Hífen ou traço de união
Lista das regras do uso do hífen: para que serve, simplificações com o Acordo Ortográfico de 1990, quando deve ser usado e quando não deve ser usado, guia prático para o uso do hífen em palavras formadas por prefixação.
O hífen serve para ligar, ocasionalmente, as partes de um vocábulo que se completa na linha seguinte e, fundamentalmente, para ligar vocábulos que, embora mantendo a sua independência fonética, se justapõem para formação de uma nova palavra (ver o ponto 10.5.1).
Coincidindo com mudança de linha, o hífen repete‑se na abertura da linha seguinte (ver o ponto 10.2), para mostrar que esse elemento faz parte de um composto:
segunda‑
‑feirasalmão‑do‑
‑atlânticocabo‑
‑verdiano
As abreviaturas dos compostos mantêm o hífen do composto quando se abrevie com mais de uma letra:
sarj.‑aj., ten.‑cor., 2.a‑f., m.‑q.‑perfeito (mais‑que‑perfeito)
A base XVI do Acordo Ortográfico de 1990 introduz simplificações no uso do hífen nas formações por prefixação (ante‑, anti‑, circum‑, co‑, contra‑, entre‑, extra‑, hiper‑, infra‑, intra‑, pós‑, pré‑, pró‑, sobre‑, sub‑, super‑, supra‑, ultra‑, etc.) e também por recomposição, isto é, nas formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina (aero‑, agro‑, arqui‑, auto‑, bio‑, eletro‑, geo‑, hidro‑, inter‑, macro‑, maxi‑, micro‑, mini‑, multi‑, neo‑, pan‑, pluri‑, proto‑, pseudo‑, retro‑, semi‑, tele‑, etc.).
O hífen emprega‑se:
- Quando o segundo elemento da formação começa por «h» ou pela mesma vogal com que termina o prefixo ou pseudoprefixo:
anti‑higiénico, circum‑hospitalar, co‑herdeiro, contra‑harmónico, extra‑humano, pré‑história, sub‑hepático, super‑homem, ultra‑hiperbólico; arqui‑hipérbole, eletro‑higrómetro, geo‑história, neo‑helénico, pan‑helenismo, semi‑hospitalar
anti‑ibérico, contra‑almirante, infra‑axilar, supra‑auricular; arqui‑irmandade, auto‑observação, eletro‑ótica, micro‑onda, semi‑interno
- não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des‑ e in‑ e nas quais o segundo elemento perdeu o «h» inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc. O mesmo se verifica com outros prefixos como re‑ e trans‑ (por exemplo: reaver, transumano),
- nas formações com o prefixo co‑, este aglutina‑se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por «o»: coobrigação, coocupante, cooperação, cooperar, coordenar, etc. O mesmo se verifica com os prefixos re‑ e pre‑ (por exemplo: reeleger, preexistir), mas não com o prefixo sobre‑ (por exemplo: sobre‑elevação);
- Quando o prefixo ou o falso prefixo termina em «m» ou «n» e o segundo elemento começa por vogal, «m», «n» ou «h»:
circum‑escolar, circum‑murado, circum‑navegação, pan‑africano, pan‑europeu, pan‑helénico, pan‑mágico, pan‑negritude
NB:circumpolar, pambrasileirismo, pampsiquismo.
- Nas formações com os prefixos ciber‑, hiper‑, inter‑ e super‑, quando combinados com elementos iniciados por «r» e «h» (por exemplo: hiper‑rancoroso):
hiper‑requintado, hiper‑resistente, hiper‑ridículo, hiper‑rugoso, inter‑racial, inter‑radial, inter‑regional, inter‑relação, inter‑resistente, super‑realismo, super‑realista, super‑requintado, super‑revista, hiper‑humano, hiper‑húmido, inter‑hemisfério, super‑homem, super‑herói
- Nas formações com os prefixos ex‑, sota‑ e soto‑, vice‑ e vizo‑; pós‑, pré‑ e pró‑:
ex‑almirante, ex‑diretor, ex‑hospedeira, ex‑presidente, ex‑primeiro‑ministro, ex‑rei; sota‑piloto, soto‑mestre, vice‑presidente, vice‑reitor, vizo‑rei; pós‑escrito, pós‑graduação, pós‑tónico; pré‑escolar, pré‑natal; pró‑africano, pró‑europeu, pró‑forma
- Nas formações com os prefixos ab‑, ad‑, ob‑, sob‑ e sub‑, quando combinados com elementos iniciados por «r»:
ab‑reação, ab‑rogar, ad‑renal, ob‑reptício, sob‑roda, sub‑raça
- Nos compostos com bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou «h»:
bem‑aventurado, bem‑estar, bem‑humorado; mal‑afortunado, mal‑estar, mal‑humorado
NB:Bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante:
bem‑criado (cf. malcriado), bem‑ditoso (cf. malditoso), bem‑falante (cf. malfalante), bem‑mandado (cf. malmandado), bem‑nascido (cf. malnascido), bem‑soante (cf. malsoante), bem‑visto (cf. malvisto)
Em muitos compostos, bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte:
benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.
- Nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem:
além‑Atlântico, além‑fronteiras, além‑mar; aquém‑mar, aquém‑Pirenéus, aquém‑Tejo; recém‑casado, recém‑criado, recém‑nascido; sem‑cerimónia, sem‑número, sem‑vergonha
- Quando o segundo elemento da palavra é uma sigla, um nome próprio ou um nome comum com ortografia alheia às regras do português:
pró‑UE, ex‑URSS
anti‑Dantas, anti‑Kadhafi
NB:Exemplos de palavras formadas por prefixação em que se emprega o hífen, frequentes nos textos da responsabilidade da Comissão Europeia:
inter‑regionalpan‑europeu
inter‑relaçãopoli‑insaturado
inter‑relacionadosub‑regional
micro‑ondassub‑representado
mono‑hidratadotri‑hidratado
Não se emprega o hífen:
- Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por «r» ou «s», estas consoantes dobram‑se:
antirreligioso, antissemita, biorritmo, biossatélite, contrarregra, contrassenha, cosseno, eletrossiderurgia, extrarregular, infrassom, microrradiografia, microssistema, minissaia
- Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente daquela, as duas formas aglutinam‑se, sem hífen, como já sucede igualmente no vocabulário científico e técnico:
aeroespacial, agroindustrial, antiaéreo, autoaprendizagem, autoestrada, coeducação, extraescolar, hidroelétrico, plurianual, radioativo, termoeletricidade
NB:Exemplos de palavras formadas por prefixação em que não se emprega o hífen, frequentes nos textos da responsabilidade da Comissão Europeia:
agroalimentar (antes: agro‑alimentar)microcrédito
agroambiental (antes: agro‑ambiental)microempresa
anteprojetomicroprojeto
anticoncorrencialmotosserra
antifraudemultissetorial
autoavaliação (antes: auto‑avaliação)oligoelemento
autofinanciamento (antes: auto‑financiamento)optoeletrónico
biorresíduosortoimagens
birregionalparaestatal (antes: para‑estatal)
cibersegurançasemiacabado
codecisão (antes: co‑decisão)semidiesel
cofinanciamento (antes: co‑financiamento)semiduro
cogeração (antes: co‑geração)seminatural
extracomunitáriosemivida
extrajudicialsocioeconómico
extraquotasubação
fotointerpretaçãosubconta
infraestrutura (antes: infra‑estrutura)subfornecimento
infravermelhosubnacional
interserviçossubsistema
intersetorialsubtotal
intracomunitáriosubutilização
macroeconómicotransetorial
Guia prático para o uso do hífen em palavras formadas por prefixação:
Utiliza‑se o hífen nas seguintes circunstâncias
- O segundo elemento de formação começa por «h»:
super‑homem
- O segundo elemento de formação começa por vogal idêntica à última vogal do prefixo:
contra‑ataque, micro‑ondas
- O prefixo termina com «r» e o segundo elemento começa com «r»:
hiper‑resistente, super‑realismo, inter‑racial
- O prefixo é acentuado graficamente:
pós‑guerra, pró‑europeu
- O prefixo termina com «n», «m», «b», ou «d» e a sua aglutinação provoca a leitura indevida da palavra:
ab‑rogar, circum‑escolar, pan‑europeu
- O prefixo é sota‑, soto‑, vice‑, vizo‑, grão‑, grã‑ ou ex‑ (com sentido de anterioridade):
vice‑cônsul, grão‑vizir, ex‑presidente
- O segundo elemento é um estrangeirismo, um nome próprio ou uma sigla:
anti‑trust, anti‑Europa, mini‑GPS
No entanto, a maioria das palavras formadas por prefixação é escrita sem hífen. É esse também o caso de prefixos átonos como «co‑», «pre‑», «pro‑», «re‑» ou verdadeiros prefixos como «in‑», «des‑», mesmo quando:
- o segundo elemento de formação começa por «h» (que cai):
desabitado, inabilidade, reabilitação
- o segundo elemento de formação começa por vogal idêntica à última vogal do prefixo:
cooperativa, preencher, proótico, reeleger
- o segundo elemento de formação começa por «h» (que cai):