10.4.2. Vírgula
A vírgula indica uma pausa breve na leitura, variando o seu emprego de autor para autor.
A vírgula indica uma pausa breve na leitura, com ligeira inflexão de voz, variando o seu emprego de autor para autor. No entanto, podemos considerar as seguintes regras sancionadas pelas gramáticas:
O predicado nunca deve ser separado do sujeito por uma vírgula:
«A graça de Girão não era a das anedotas: era a sua.» (Camilo C. Branco — Cancioneiro Alegre)
Nunca se separa por vírgula o verbo dos seus complementos:
«O dia de Páscoa era uma malhada para os padres.» (Aquilino Ribeiro — Terras do Demo)
O vocativo é sempre seguido de vírgula:
«Pai, eu quelo a tua olelha.» (Erico Veríssimo — Olhai os Lírios do Campo)
Os apostos ou continuados vão entre vírgulas:
«Aos tombos, apoiando a mão no chão a cada desequilíbrio, teimoso, roçando pelas paredes, subiu para o meio da vila.» (Manuel da Fonseca — «Névoa», Aldeia Nova)
As frases começadas por gerúndio ou particípio passado independente separam‑se da oração seguinte por vírgula:
Começando a chover, o passeio não se realizou.
Dada a urgência, o filho foi logo operado.
O gerúndio dependente não é precedido de vírgula:
«O enfermo foi melhorando envolto nos olhares cariciosos de Felícia e em papas de linhaça.» (Camilo Castelo Branco — Eusébio Macário)
Separam‑se por vírgulas todos os elementos de uma oração com natureza e valor funcional idênticos, não ligados por conjunção:
«O desordeiro provocou, insultou, maltratou quantos se aproximavam dele.» (Cândido de Figueiredo — Gramática Sintética da Língua Portuguesa)
Colocam‑se entre vírgulas as palavras ou frases intercaladas:
«O Kurika, medroso mas deliciado, tremia. De vez em quando saltava nervosamente sobre as patas da frente, no mesmo lugar, ou escavava a areia.» (Henrique Galvão — Kurika)
Os advérbios sim e não são seguidos de vírgula quando começam uma oração e se referem à anterior:
«— Sim, a isso na minha terra chama‑se o raleiro da madrugada.» (Aquilino Ribeiro — Lápides Partidas)
«— Não, isso não faço eu.» (Aquilino Ribeiro — Lápides Partidas)
Antes do pronome relativo que, emprega‑se a vírgula quando este introduz uma oração explicativa:
Morreram muitos soldados, que fariam falta para o prosseguimento da luta.
Conjunções como embora, mas, etc. seguem a regra anterior:
Sentia os olhos cansados, mas ainda acabou o livro.
O pronome quem, acompanhado de preposição, é precedido de vírgula:
«Entre os membros daquela lustrosa companhia distinguia‑se por seu porte altivo o conde de Barcelos, D. João Afonso Telo, tio de D. Leonor, a quem nos diplomas dessa época se dá por excelência o nome de fiel conselheiro.» (A. Herculano — Lendas e Narrativas)
O elemento ora em início de fase é, geralmente, seguido de vírgula:
Ora, as coisas não se passaram bem assim!
Separam‑se, na generalidade, por vírgulas as palavras aliás, contudo, enfim, isto é, pois, porém, talvez, todavia e outros elementos semelhantes:
«Os acontecimentos posteriores provaram, todavia, mais uma vez, quanto podem falhar as previsões humanas.» (A. Herculano — O Bobo)
A vírgula também serve para separar a designação de uma entidade ou de um lugar, quando se data um escrito:
Bruxelas, 1 de janeiro de 2012.
A vírgula emprega‑se também para separar elementos de uma enumeração introduzidos por travessões ou por pontos:
As ações financiadas repartem‑se da seguinte forma (em milhões de euros):
- programas horizontais: 253,
- abertura de programas comunitários: 3,
- Phare «Democracia»: 11.